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PSICOFLIX - A Série da Mente V

Episódio 5 - Pânico: quando tenho medo do próprio medo...



Mãos suadas e trêmulas, calafrios e parestesias; coração acelerado que aperta e pressiona o peito; nó na garganta, boca seca. Chegam a náusea, a tontura, sensação de desmaio e tensão muscular intensa. “Não diga que não estou infartando! Não diga que não estou morrendo!”. “Tenho medo de enlouquecer, ou de perder o controle e desfalecer! Posso ter uma doença fatal.” “Não me abandone, não fico sozinho!” “Não me diga que vai passar e que não tenho nada, sinto tudo isso e não estou louco.”


A narrativa acima é algo que já ouvi inúmeras vezes em consultório. Pacientes que chegam até um consultório psicológico, cansados, exaustos, assustados, desesperados e descrentes, após longa peregrinação de especialista por especialista nos consultórios médicos. Adiciona-se à cena um calhamaço de exames e normalmente, visitas constantes às salas de emergências de hospitais, quando os ataques tomam forma.


Pânico é a resposta. Palavra originada do grego: Panikós, relativo a Pã (Deus da mitologia), deus das matas e da natureza, dos rebanhos e pastores; um deus flautista e altamente erotizado, que tinha chifres e patas de bode. Atribuía-se a ele os ruídos aterrorizantes da noite dos campos, surgindo a expressão térakhos Panikós, que se traduz “terror pânico”.


Um ataque de pânico é assim: chega sem avisar e causa terror e desespero. Este terror narrado como a sensação de morte, significa sentir o corpo desfalecer e interpretar que vai falecer.


O ataque de pânico quando com frequência recorrente, pode levar à síndrome do pânico. Quadro onde o paciente passa a temer ataques futuros, medo de morrer, gerando ansiedade e temor excessivos, prejudicando o funcionamento global do indivíduo. O pânico está também ligado a outros quadros como agorafobia (medos de lugares públicos, multidões), depressão e fobia social.


Para entendermos os ataques, precisaremos entender o funcionamento do transtorno. Considerando as bases teóricas para o entendimento do TP do ponto de vista psicológico, uma das teorias mais aceitas e com grande utilidade prática segue a teoria cognitivo-comportamental. Nesta teoria, os ataques de pânico derivam de interpretações catastróficas disfuncionais de certas manifestações corporais. A suposição é centralizada no processamento inadequado de informações vindas de um estímulo externo (ex. ruído, luminosidade, etc) ou interno (ex. sensação de taquicardia, sudorese, vertigem, etc). A interpretação é de perigo iminente, o que dispara ou intensifica as sensações corporais, confirmando o “perigo” e gerando, então, mais interpretações catastróficas e ansiedade, em uma espiral crescente e rápida. O modelo de Barlow amplia este conceito. Conforme este modelo, o ataque de pânico inicial é um alarme falso que pode ser ativado quando ocorre um aumento momentâneo de estresse na vida de indivíduos com vulnerabilidades biológicas e/ou psicológicas. Após o primeiro ataque, a pessoa torna-se apreensiva em relação a ataques futuros. Para Barlow, o medo primário no TP é o medo das sensações físicas, particularmente as associadas à ativação autonômica, com influência de fatores socioculturais para o surgimento da agorafobia.


Outros autores dedicaram-se ao estudo dos fatores psicodinâmicos associados ao início do TP ou ao de uma maior vulnerabilidade psicológica ao transtorno. Pacientes com TP frequentemente se descrevem como crianças medrosas, nervosas e tímidas, e também referem desconforto com os sentimentos agressivos, sentimentos crônicos de baixa autoestima, frustração e ressentimento precedentes ao início do TP. A qualidade da relação parental é um fator de risco para o TP. Por exemplo, os pacientes com TP frequentemente descrevem seus pais como pessoas brabas, críticas, amedrontadoras e controladoras. A teoria psicodinâmica trabalha com a prerrogativa de que conflitos internos inconscientes se relacionam estreitamente com as manifestações ansiosas; portanto, as frustrações, ressentimentos e relações infantis tornam-se imperiosas para a abordagem terapêutica desse transtorno, assim como uma cuidadosa avaliação da estrutura de personalidade subjacente do indivíduo.


O manejo emergencial das crises de pânico baseia-se principalmente na tranquilização do paciente mediante a informação de que os seus sintomas são provenientes de um ataque de ansiedade, não configurando uma condição clínica grave com risco de morte iminente, no reforço de que a crise é realmente intensa, muito desagradável e causa mal-estar muito forte. Deve-se reforçar o caráter passageiro (cerca de 10-30 minutos) do ataque e, especialmente, instruir o paciente para que ele respire pelo nariz e não pela boca, enfatizando a importância de tentar controlar a frequência de inspirações no intuito de não hiperventilar. Em grande parte das vezes, a tranquilização rápida e o caráter autolimitado dos sintomas são suficientes para terminar com a crise. Nos pacientes com sintomas predominantemente respiratórios, relacionados provavelmente a hiperventilação, o paciente é instruído a respirar com o diafragma e limitar o uso da musculatura intercostal. Deve-se estimulá-lo a respirar lentamente até que os sintomas de hiperventilação desapareçam.


Algumas técnicas de relaxamento também podem ser utilizadas. Por exemplo, pode-se instruir o paciente a permanecer deitado, com os olhos fechados, respirando lenta e profundamente, tentando relaxar os diferentes grupos musculares e concentrando-se em um cenário tranquilo. No entanto, se a crise for muito intensa ou de tempo prolongado, o uso de psicofármacos pode ser aconselhado.


A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a terapia com os resultados mais consistentes para o TP, sendo superior a terapias de controle de atenção psicossocial e a placebo na maioria dos estudos, apresentando uma boa aceitabilidade e aderência, rápido início de ação e uma boa relação de custo-efetividade. Tanto a TCC em grupo quanto individual possuem resultados semelhantes.


O tratamento com TCC para TP consiste em psicoeducação sobre o TP, no intuito de corrigir interpretações errôneas acerca do TP, treinamento de técnicas para diminuir a ansiedade, como respiração diafragmática e relaxamento muscular, reestruturação cognitiva, para identificar e corrigir distorções no pensamento, exposição interoceptiva, no intuito de que o paciente aprenda a lidar com os sintomas físicos do ataque de pânico, e exposição in vivo, a fim de estimulá-lo a enfrentar as principais situações que teme por medo de passar mal e não encontrar saída ou ajuda.

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