PSICOFLIX - A Série da Mente VII
- Dra. Gisele Melo

- 24 de jul. de 2019
- 3 min de leitura
Episódio 7 - Sobre a dor, a coragem e a esperança...

Se há algo que nos une como seres humano, é a dor. Vivermos momentos difíceis, de sofrimento e dolorosos são certezas que apesar de não sabermos quando irão chegar, inevitavelmente chegarão. A dor é algo que jamais podemos comparar; não se pode dizer que perder um ente querido dói mais que ter uma doença grave ou perder um emprego. Cada um sofre à sua maneira, com sua intensidade e seu tempo.
Vivemos numa era onde é imposto pela sociedade que, a dor deve ter espaço reduzido em nossas vidas, e sempre que ela se fizer presente, devemos evitar ou escapar dela o mais rápido possível. Elaborar lutos, passar pela fase da tristeza, do desânimo, da desesperança ou do desapontamento, passou a ser algo tipo “fast-food”: sente-se rápido, satisfaça-se rápido, levante-se rápido e vá embora!
É dessa mesma “fast-forma” que tratamos assuntos tão profundos como esses. Usamos recursos medicamentosos, “coaches de vida, de carreira e relacionamento”, receitas para o sucesso e felicidade, redes sociais para “encurtar distâncias” e nos fazerem mais felizes... Porém, tentar vender às pessoas uma solução fácil, ou uma panaceia para a dor, deveria ser considerado o pior tipo de desonestidade.
Quando o lema de vida humana e os valores em que nossas vidas estão baseadas são felicidade e sucesso a qualquer custo, fracassar nesses quesitos pode ser muito doloroso e alimentar as dúvidas, deixando-nos vulneráveis ao julgamento alheio e a vergonha de nossa parte.
Mas então, qual a resposta para uma sociedade que se entorpece de medicações para não sofrer? Que cria artimanhas para fugir do desconforto, do fracasso e da dor?
Não seríamos tão ousados em dizermos que temos a solução absoluta para este dilema. Contudo, há questões que podemos levar em conta para resolvermos esta problemática, e as duas palavras que pensaremos juntos são a coragem e a esperança.
Neste panorama, corajosos são aqueles que enfrentam o desconforto e a vulnerabilidade de peito aberto. É preciso coragem para contar a verdade sobre sua própria narrativa, a forma que você conta sua história de seu nascimento até hoje. Aceitar os eventos difíceis que a vida nos impõe, abraçar a própria história, acolher a dor como aliada, sem fugir dela, permitindo que ela faça parte de sua existência, é um grande ato de coragem.
Heróis são aqueles que se colocam nas arenas da vida, que escolhem ousar; aceitar em vez de fugir, suportar em vez de apenas lutar, mostrar feridas em vez de esconder, tentar em vez de desistir ou nem começar. Estar nessas arenas não é certeza de sucesso e ganho; muito pelo contrário: podemos perder, cair e “quebrar a cara”. Mas escolher estar vulnerável e ser visto quando não se tem controle sobre o resultado, não é fraqueza e sim nossa maior medida de coragem.
Enquanto há os que escolhem as arenas, há os compradores de assentos nas arquibancadas baratas. Muitos desses assentos estão ocupados por pessoas que jamais cogitaram provar da vulnerabilidade, jamais se expuseram ou se arriscaram. No entanto, são os primeiros a fazer críticas, atirar pedras e tecer comentários maldosos.
Neste sentido, todas as vezes que o sofrimento chegar em detrimento do julgamento dessas arquibancadas, não podemos nos impactar, criar crenças ou ficarmos estagnados, ao nos importarmos com o que os outros pensam sobre nós. É necessário selecionar as opiniões e julgamentos que você permite terem voz em sua vida. Se a pessoa não está na arena da vida se expondo e quebrando a cara; a opinião dela não deve ser de seu interesse.
A coragem transforma a estrutura emocional da nossa alma. A coragem é contagiosa. Há pessoas que vivem paralisadas pelo medo e tornam-se estagnadas e perdidas, impedindo que o crescimento e significado de vida cheguem até elas.
A esperança é o último ato. A esperança chega quando passamos por experiências verdadeiras de adentrar a arena da vida e perceber o que realmente importa, e construirmos uma vida de mais significados, começando a fazer parte de algo muito maior que apenas nosso ego. A partir da esperança, a vida deixa de ser sobre sempre fugir, evitar ou esconder. Ela traz a verdadeira mensagem de que há dias ruins e há dias bons; de que há aprendizagem nas derrotas e que os dias de vitória existem, mas todos são temporários, e ainda assim podemos viver de forma satisfatória.
Após o último ato, podemos então viver para valer! Passamos a enfrentar o mundo de uma forma diferente da estagnação e medo. Desse momento em diante, a vida não gira mais em torno de nós; somos nós que passamos a girar em torno da vida.




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